quinta-feira, 6 de maio de 2010

Poemas dos Poetas En|Cena 4

Lançamento do livro Poetas Encena 4, no Sarau lítero Musical
Data: 16 de julho de 2010 - sexta feira
Local: Status Café Cultura e Arte
Rua Pernambuco, 1.150 - Savassi - Belo Horizonte - MG.

P A R T O

P


A


R


T


O


PARTI


PARTINDO.


P


A


R


T


O


PARI


PARINDO.


P


A


R


T


O


PARTINDO


PARINDO.



Cler de Veloix, é nome artístico da acadêmica Célia Maria Barbosa


ENCOMENDA
Perpétua Amorim

Você vai pra Minas Gerais?
Traga-me umas coisinhas de lá
Um queijo bem curado
Desses que dá para ralar
Pensando bem; traga mais dois
Um meia cura e o outro fresquinho,
Para acompanhar doce de leite
E de sidra raladinho.

Você vai pra Minas Gerais?
Traga-me umas coisinhas de lá
Um tanto bom de pão de queijo
Algumas broas de fubá.
Peça a prima Teresinha
Para fazer um frango ao molho
Com quiabo e polenta
Feitos no fogão de lenha
Bem puxado na pimenta.

Você vai pra Minas Gerais?
Traga-me umas coisinhas de lá
Uma dúzia de ovos frescos
Colhidos em vários ninhos
Antes do sol se pôr.
Traga-me uma rapadura
Do engenho do João Bentinho
Um embornal de pamonha
E um balaio com biscoitinhos.

Você vai pra Minas Gerais?
Traga-me umas coisinhas de lá
Aquela colcha de retalhos
Que a tia Fia está a coser
Juntando numa única peça
Toda a poesia de viver.
Desculpe-me tanto transtorno
Se as encomendas são demais
E que eu ainda preciso
De um litro de pinga pura
E outro com sassafrás.








FALAR
Luiz Eduardo Gunther


Havia a possibilidade
plena
de falar,
sem buscar
a palavra exata.

Mas só
no silêncio
de um olhar,
podia
a palavra toda
brotar.








PARA SER FELIZ
Ina Melo


Para ser feliz na vida, teci sonhos com
fios luminosos de sol, poeira
de estrelas e espumas do mar

Para ser feliz na vida, semeei
amor, esperanças e
flores no meu jardim

Para ser feliz na vida, fiz do
pouco muito, da tristeza alegria
da paixão amor











JOSÉ MINDLIN
Walnélia Corrêa Pederneiras


Estampas

nas paredes de meu viver,

ricos espaços de minha casa.

Inspirada em ti e em tua amada

Estantes preciosas

alinhadas em bibliotecas!



...Não só os livros


sentem falta de ti...



REDE
José Eduardo de Resende Chaves Júnior,
mais conhecido como Pepe Chaves.

O poema
Não é livre
Nem é teia
É uma língua
Me enreda na cadeia

O poema
esse canto de sereia
Tece, sobe e desce
E esse ‘s’ que acontece
O alívio me enleia.

Poema
Só poema
Só tonteia
Nada mais
Mais é tudo
Mais que nada
Verso livre não tem peia

Poema é asa
álea e lis
sem céu e sul
uma verdade e meia
puro sangue azul

Poeta não tem veia.






A MENINA
Eduardo Rennó

A menina que brilha
dos sapatos cintila
salto-alto na varanda
chove lá fora um pouquinho
amansa

Bate o sino da igreja
nove horas ainda descansa
cavalo trotando no sonho
balanço rodando sem parar
devagarinho rangendo
aos poucos

Faço mais um bocejinho
ando bem devagarinho
cigarro de palha no bolso

O sol se põe no caminho
e eu acho mais um rosto









PULSO CORTADO
Márcio Adriano Silva Moraes

veia aberta jorro notas agudas
no piano já não branco tecla
a prima suíte debussy
estanco o sangue com dó
e restituo minha faca solta
lagrimas no vermelho
sicário








A VERDADE É QUE OS PÁSSAROS DO CÉU ...
Marcos Freitas

a verdade é que os pássaros do céu
se sustentam no ar movidos pelos seus próprios sonhos
a verdade é que pisamos a terra do chão
esmagando com nossos calcanhares nossos próprios destinos
a verdade é que esquecemos – constantemente –
de que somos feitos pra dar carinho










SENSITIVO
Olivier Zoroastro Martins


Em minha casa senti
Um velho espelho que vê
Um criado mudo que fala
Cama vazia que dorme
Parede fria a ouvir...
E a vida correndo entre os dedos.

De muitas lembranças plantei
Janelas violadas pelo sol
Um livro sem palavras
Coração cheio de gente
Relógio parado no tempo...
E um amor a revelar-me segredos.

Se minha vida tropeça
De músicas e cheiros guardados
Na porta entreaberta que ri
Ouço preces a me agasalhar
Uma pessoa linda a florir:
Meus dias e noites e medos.










AMAR DIANTE DO ESPELHO
Jacqueline Aisenman

Eu te amo porque me vês tal qual

sou, serei e nunca talvez igual

Eu te amo porque me desejas

assim

Com tudo o que há de bom e mau

em mim

Eu te amo porque me olhas ardentemente

E o desejo acende, tudo rompe e de tudo

independe

Eu te amo porque somos partes,

Somos incondicionalmente a arte

de um reflexo que só a vida é capaz de nos dar

Eu te amo e o que vivemos é o abandono de nós,

o supremo mandamento, a lei única da existência,

emblemática do que somos

E entre nós não há paredes sintomáticas

Há somente a essência do amor, puro, sem danos.

Sei quem és, te aceito em teu nome, amém.
Sabes quem sou, me aceitas em meu nome, amém.



MARIA NAVEGANTE
Jiçara Martins


Vejo canoas e barcos,
Vejo marcos.
Ancoradouros…
Sumidouros...
Navego por calmarias,
Entre Joões e Marias,
Navegantes… Viajantes…
Eu… Um iogue ou uma alternativa.
Quieta, rebelde.
Tímida, travessa,
Cheia de entrelinhas.
Num porto qualquer,
Aporto, desembarco,
Sem rumo…
À busca de um prumo,
Que me alinhe, costure, remende;
Ou me faça uma nova vestimenta.
SERÁ…?!








QUINA
Regine
Limaverde


Eram cinco homens belos.
Eram cinco donas belas.
Eram cinco rosas dadas.
Eram as cinco amarelas. .

Eram cinco gargalhadas
nas cinco bocas vermelhas,
nas cinco bocas de macho,
a acender cinco centelhas. .

O fogo que foi queimado
em cinco tochas virou.
Eram cinco donas tristes.
Cinco chorando de amor.



EVA PERÓN
Saul Martins


Vi longe enfurecido o mar, vi quando
Varria a angústia os sáfaros escolhos,
Vi mães, Evita, em vão por entre abrolhos
Querendo ver-te, míseras chorando.

E entre a relva da pampa e agrestes molhos
De flores perfumosas vi-te andando,
À meiguice da brisa, e contemplando
A barra anil já próxima dos olhos.

E mais eu vi de cá destas montanhas,
Vi torrentes de lágrimas tamanhas
Banhando a tua pátria de saudade.

E vi-te, enfim, ó flor do sofrimento,
Abrir a fímbria azul do firmamento
E majestosa entrar na eternidade.




DESABAFO
Cris di Castro
'
'
Nasci feia, enrugada, desgraçada.
Largada por meus pais... É o que sei.
Cresci na droga: humilhada, adulterada...
Deflorada, em pouco tempo me perdi
Induzida por quem amei...
Mau caráter, bom vivant.
Seu corpo me aquecia!
Buscava meus beijos com afã.
Ninguém nasce mau.
É que eu não tive em quem me agarrar...
Olhe pra mim...
Sou fracassada; mas, ainda gente.
E delinquente nehum vai me tosar.
Pego bagana de cigarro... Tiro um trago.
Cheiro o prazer...
A desgraça vem.
Me sinto só.
Sem amor... Sem carinho...
Me dê veneno pra eu beber...
Me ajuda a viver, a matar ou morrer.
Me liberta dessa detestável sorte...
Quero palácios, riquezas ou então, a morte!
Falo comigo, falo com Deus...
Ninguém me ouve.
Passam nas ruas carros lindos! Acho esquisito.
Venha morte...
Veja meu olhar petrificado...
Meu cérebro diluído...
Venha lentamente me libertar...
Não!
Não tão cruel assim.
Lentamente, devagar...







RANHURAS BUCAIS
Brenda Mar(que)s Pena


A garganta dolente expele gritos roucos:
Disturbiantes dementes se aproximam
Palavriantes cuspidores de cacos
Na ponta da arma se desalmam.

Como a luta armada irrita a alma!
Tamanha estupidez e intolerância
De espelhos da torpe arrogância
Desesperos dos valores da infância.

Engolidores de dinheiro expelem hipocrisia
Enquanto o sangue cobre de lama o chão
Em atos que provocam no estômago azia
E nos olhos aguça-se a sede de compaixão.











UM SUJEITO E SEUS PREDICADOS
Roberto Damasceno Netto


Era um sujeito determinado a ser feliz.
Composto de boas ideias.
Porém, num dia indeterminado, o governo as refugou.
Colocou-as inexistentes.
Tranquilamente, continuou ocultamente feliz.
Era um sujeito simples.
Dizia, aos amigos, que este governo é um sujeito sem oração
e de muita Contra-dicção.
Para encurtar a história,
este sujeito acabou sendo mesmo feliz.
Pois era um sujeito simples.
Composto de boas ideias.





CHANCES
Túlio Sousa

Vai...
por toda a estrada que assim surgir
te espera o mundo assim como eu
contemple tudo que está por vir
guarda contigo o que aconteceu
Vai...
por todo o sonho que persistir
será de sonho tal realidade?
sonha, contudo se fizer sorrir
sorria às chances de felicidade
sem você minto graça onde há só saudade
tão grande é o querer bem que você me traz
tal qual sentimento a nos confundir amizade
tão quanto a falta que você me faz



CINES DA CIDADE
Valdemar Alves


Cine São Luís: As aventuras de Tom Jones; Cleópatra
Cine Gazeta: A Voz da Lua; Encouraçado Potemkim
Cine Old Metrópole: O Pecado do Xerife; A Última Sessão de Cinema
Cine Fortaleza: Amarcord; Chinatown
Cine Art: A Noviça Rebelde; Ladrão de Bicicleta
Cine Ventura: Doutor Jivago; Woodstock
Cine Cristo Rei: Yellow Submarine
Cine Assunção: Cidadão Kane
Cine Toaçu: Balão Vermelho
Cine Jangada: Paixão de Cristo
Cine majestic: Carlitos
Cine Moderno: Tarzan
Cine diogo: Vidas secas; La Violettera
Cine Samburá: O grande Motom; Noite Vazia
Clube de Cinema: Irmãos Rocco
Cine Familiar; Cine Politeama; Cine Atapu; Cine Félix Caixeral; Cine Araçanga



PROJETO BORBOLETA (:)
Clevane Pessoa


Registro da formação estática, casulo ou ninfa,
registro das asas em movimento,
cores muitas, formas várias,
símbolo de fidelidade no Oriente
de efêmero, no Ocidente.
A paciência da espera num halo de encantamento.
A pupa. Silêncio de meditação.
A forma alada;
secar as asas, fortalecê-las,
para voar, voar, quais balerinos
incansáveis.
o frêmito da vida.
Os ovos. A fragilidade e a fortaleza.
Falena, mariposa, borboleta,
cada qual no seu tempo de ser:
“crisantempo”: uma papilionácea
pousada no crisântemo, à distância,
merece um desenho, um poema,
um suspiro de admiração...





MIRAGENS
Cosme Custódio da Silva


Quando ela disse-me adeus
Sem antes edito ou édito
Tampouco edital
Sutil e inconsútil
Nos frescores leitosos
Da sua esbelteza
Oh, Deus!
Que tristeza deu-me

Escarlate de furor
Doido e doido
Vi desterrado o inescrutável
Menoscabado o inescurecível
Ter preço o que outrora
Só tivera valor

Dessagrado o amor
Dessangrando o amar
Choro o aconchego perdido
Vagando no vasto deserto
Da vida
A vê-la nas miragens











LA POESIE
Cristina Carone

Ela andou dormindo
Por muitos anos.
Indolente
Lânguida
Bela e expressiva.
Sim... A poesia...
A expressão máxima
De Amor, Sentimento e Beleza.
Dormiu em seu leito
Sobre lençóis de cetim
E seu corpo nu,
Coberto por pétalas de rosas
Vermelhas e aveludadas...
Ela aspirava o perfume delas.
Dela vinha uma luz intensa
Do SOL dourado, durante o dia
DA LUA prateada, por toda a noite.
Era hora de acordá-la...
Era preciso...
Uma estrela cadente
Iluminou seus olhos,
E ela renasceu.
Hoje, ela se exprime em diversas formas:
Com suas mãos delicadas, toca corações.
Grita, protesta e ama sem limites
Com uma única esperança:
Levar ao mundo
Às pessoas
A PAZ, O BÁLSAMO e a PAIXÃO.



IMORTAL
Deiwson Ferreira de Magalhães,

(a última poesia)

Repouso agora meu corpo exausto
fadigado por tantas andanças;
Respiro pela última vez
e o olhar registra a imagem derradeira.
Os ombros estão pesados
e as pálpebras insistem em adormecer.
Repouso agora na cauda de um cometa,
serei levado ao infinito dos cosmos,
juntarei-me a outros astros peregrinos
e começarei a entender os mistérios do mistério da vida.
Contarei a outros povos, de outras galáxias,
que por mais que tenha aprendido,
não tive tempo de aprender tudo,
porque o tudo é o mistério.
Em meu novo estágio,
não sei se serei rei, ou apenas súdito;
Sábio ou mero operário;
Se estarei de fraldas ou apoiado em um cajado,
mas contar-lhes-ei sobre a paixão,
declinarei versos e falarei de música.
Tentarei explicar que a inspiração é algo tão abstrato,
tal como a razão,
e que o vazio é uma opção incompreendida.
Que as pessoas se amam,
mas ainda conseguem se odiar.
Vou contar-lhes que deixei fotos, filmagens e poesia,
que fui adubo e energia,
mas que tive uma única missão:
a de mudar a ordem das coisas.










CANDELABRO
Diego Mendes Sousa

Dói-me o peito
Queima-me a alma
esta solidão reclusa

Não por querer viver
Nesta orla-névoa
albicante como meu rosto

Se por medo da morte

Se por medo da perda
desta vida sob velas

Uma noite...

...Não serei solidão

Não serei solidão
quando o candelabro
for sereno
ao apagar-se








O CANTO DO GALO
Eliane Martins

Cante o galo a sua história de vitórias
vividas no canto do galo em memórias.
Venha a lágrima ou o largo sorriso
a palavra é parida em tom preciso.
Cante o galo o canto dos amores
hinos e bandeiras a ferver em cores
lançadas ao vento, puro sentimento,
a unir as paixões por todo momento.
Canta. Canta bem alto o canto do galo
levanta alto a sua voz - só então eu calo!
Levanta a multidão e também o palavrão
porque parir a verdade nunca é em vão.
Ainda que, as ouça irritadas e desacalmadas
lembre-se sempre das massas mais amadas
cujas vozes só se fazem ouvir no grito-febril
vindo do "cabra" nascido nas terras deste Brasil.


LIBIDO
Esther Rogessi

O Inesperado...
Quando te vi ó formosa...
Deleite sentiu minh’alma,
Minhas noites antes tão calmas,
Arderam no fogo da paixão...
Perplexidade...
Que visão a minha frente,
Enlevo tal qual... jovem nubente,
Em desejo crescente...
Descompassaste-me o coração
Observei..
Tua pele branca, faces rosadas
Teu perfume que não de Dálias...
Orquídeas..., ou outras rosáceas.
Peculiar..
É o teu perfume, inconfundível!
Acentua-me o libido e assim...
Naturalmente nua, causas inveja a lua.
Dupla trilha...
São tuas pernas... Alvas e descobertas,
Caminho para o Oásis de um sedento passarinho...
No encontro delas duas, chego ao porto desejado,
Sou beija-flor sugo o néctar dessa flor em descoberta.

Enfim...
Entre doces sussurros, gemidos e outros ais...
Gotas que não de orvalho de outro céu se esvai...
Umedecem a tua rosa, multiplicidade há em mim...
Emoções que jamais deixarão de existir...







ARTES
Fátima Borchert


Preciso
de pouco
muito pouco

Uma tinta
um papel
É só o que
carrego
comigo

E assim
pinto papel
com as letras
que me saem
das vísceras

Ás vezes
esse simples
papel
torna-se
tela colorida

E muitas
muitas vezes
esse simples
papel
pincela
num borrão
a vida



ROSA AMARELA
Euna Brito

Uma delicada gota
Acompanhada de muitas
Tamborilou com cuidado a cantiga
Que as chuvas gostam
De derramar nos telhados dos mosteiros...
Dentro de casa, estávamos nós duas:
Eu e a solidão.
Muito melhor que a confusão!...
Como um padre no confessionário,
Da janela, eu escutava o som da chuva
Nas folhas fendidas das bananeiras...
Os coqueiros onde o pássaro-preto gosta de fazer ninho
Lotavam o terreno!...
Não havia mais nada de novo na terra,
A não ser o indiscutível, indescritível apelo
Ao recomeço para acabar
O inacabado...
Ah, de desgosto eu não morro!
Não morro, pois sei de socorro.
Rabisco no ar um SOS
E Deus entende que é uma prece...
Uma medrosa rosa desabrocha
Sob os cuidados da jardineira de Lisieux...
Só ver pra crer!
Ou crer pra ver!...



SOU TUA MUSA
Kedma O´Liver

Como me sinto feliz
Ao ler os versos teus
Descrevendo fantasias
Sobre você e eu

Carinhos que gostaria
De comigo trocar
Palavras que a gente diria
Ao podermos nos encontrar

Cheiros deliciosos
Que no local ficaria
Marcando nossa presença
Por um momento, um dia

Esses sonhos são forças
Para poder continuar
Ser tua musa é me sentir poesia
Além de também te amar





PENSANDO BEM
Gertrudes Greco

Pensando bem,
que graça tudo tem?...
Será de todos,
não sendo de ninguém...
Sendo à toa
passa à fazer o bem,
um bem que mata
e faz viver também!...

Pensando bem
retorna pra cá, vem!
Sem mesmo ter,
ter ido com alguém...
Volta de onde
vida não convém,
convém viver
só pra dizer amém!...

Pensando bem,
queremos sempre um bem,
um bem que eleve,
que incentive, que convém...
E, deixa de lado
tudo que inconvém...
E só assim
conseguiremos ser alguém!!!




REGISTROS
Maria Célia Nogueira,
também, conhecida como Chesi Nogueira.


Falanges, falanginhas, falangetas...
Cansam-se todos os dedos de trabalhar,
para que possam escrever e registrar
todas as memórias das minhas gavetas...

É um diário vomitar de idéias;
um cotidiano registrar de sensações;
um inesgotável choro de paixão,
prá aliviar o já fraco e triste coração.

Um incansável trabalhar com as palavras;
rimas, regras, concordâncias e conjugações,
prá achar o termo certo, com o sentido exato,
que possa representar minhas insuperáveis emoções.

Mas, por mais perfeito que seja o vocábulo
é insuficiente; não consegue, nem de longe, captar
a emoção da razão humana, oráculo
do sentimento, que nos dá o glorioso poder de pensar.

Assim, prossigo eu neste diário e eterno tormento
de perseguir palavras... para encontrar o melhor jeito
de no papel por o que me vai na alma, o sentimento,
e o que sinto, registrar de modo mais que perfeito.




O BRILHO DAS FLORES
Maria da Cruz Pereira Nunes


A natureza, cantos e amores
Como os da realeza com certeza.
Chega a estação das flores.
Os pássaros cantam alegremente
E vem voando, festejando,
O desabrochar das flores.

Riso por todos os lados,
Nos lindos campos.
São as flores mimosas,
Lindas, pequenas, perfumosas
Unindo os corações separados.





POESIA?
Maria Morais


Poesia é renda urdida com seletas palavras
é som de harpa bucólica de pastor
é canto choroso da pomba verdadeira no final do dia
chamando a companheira que não chegou.

Poesia é flor desabrochando em seus matizes
é pedaço de lua vista pela nesga duma fresta
é sorriso de crianças brincando felizes
é mãe ninando, é melodia de violão em seresta.

Poesia tem efeito de bálsamo e de unguento
massageando delicadamente coração apertado,
é refrescante água pura de regato em movimento
é brisa da tarde trazendo vento perfumado.

Poesia é deleite suave de fé e esperança
é salmo, é música sem hipocrisia
com que o poeta tenta passar a confiança
na busca por amor, justiça e cidadania
é veículo de beleza – a poesia.







GOSTARIA
Marlene Reis Barbosa


Gostaria de ser uma lágrima
Nos olhos de um menino.

Gostaria de apagar as mágoas
E destruir o ódio.
Gostaria de transformar o mundo,
Pra sermos, todos felizes.

E de ser uma estrela
Pra clarear seu caminho.
Gostaria
De acabar com a desordem
E também com o egoísmo
Que, em silêncio profundo,
Rondam nossas vidas.

Gostaria
De calar a voz
Da ingratidão
Que brota nos corações amargos.

Gostaria
De ser uma rosa, pra alegrar
Os olhos tristonhos
E caminhar, de mãos dadas,
Com a paz e o sorriso.



BORDANDO A VIDA
Régis D´Almeida



Se a pele negra é tão bela
E tão minha
Pra quê costurarmos
O que é ela
E estar feito
Acho melhor bordarmos
Os nossos defeitos
Que andam rasgando
Os nossos direitos
E da mãe natureza





A BOLA PAIXÃO DE MUITOS
João Batista Mariano


Milhões de pessoas, atentas, esperando a quarta, sábado e domingo chegar,
Para irem para os estádios, para ver a bola rolar.

Cada um torcendo pelo seu clube, já sentado em sua cadeira está, só falta
mais um pouquinho, para o jogo começar.

Apita o juiz, a bola rola pelas terras deste grande Brasil espalhando
grandes emoções, os corações chegando a mil.

Lá vai a bola, a bola rola, a bola voa, seja com força ou devagar, os olhos
estão atentos, esperando que neste momento alguém chega pra marcar.

A bola lá no escanteio, alguém toca nela, e ela vem voando, muitos já estão
esperando, de repente alguém salta mais alto, e de cabeça um lindo gol acaba
marcando.

A torcida grita, a torcida salta, a torcida chora,
a torcida exalta, esta é uma paixão difícil de entender.
Ah! Eles aí de novo,
já aguardam a próxima semana para ver novamente a bola correr.



CRUELDADE QUE ASSUSTA
Orpheu Luz Leal


Desde os primórdios do mundo,
Na era de Adão e Eva,
Que já se encontrava a treva
Sobre um indivíduo iracundo.

Pois Caim,um fratricida,
Tipo invejoso e inútil,
Matou por motivo fútil,
O seu único irmão em vida.

E o filho de Deus, Jesus,
Inocente condenado,
Foi cruelmente açoitado,
Morreu pregado na cruz.

No Coliseu,ó meu Deus,
Por leões esfomeados
Cristãos foram devorados
Por ordem de alguns ateus.

Tribunais da Inquisição
Para a fogueira mandaram
Aqueles que discordaram
Da vetusta tradição.

E Galileu se livrou
De ser morto na fogueira
Pois “concordou”com a besteira,
E a Corte o inocentou.

E em tempos mais recentes
Adolf Hitler mandou
Ao holocausto e matou
Alguns milhões de inocentes...









GATA EXATA
Júlio César Teixeira


Vulva adocicada por gotas de mel
relva dourada cobrindo um dorso de deusa
águas dantes navegadas por barcos amadores
mas nunca singradas por uma caravela amante

Pensas que o mundo é teu mundo
encontrando sempre essa confirmação
tentam prender-te em um aquário
quando o mar é teu destino

E quando alguém te contar uma história verdadeira
ficarás pasmada e sem chão
deitarás em um tapete felpudo
chorando e tragando os ácaros da decepção

Então, quando despertares, serás Cinderela
sem nada que te prenda ao passado
livre para seres desvairada
como uma doce Pauliceia






A MORTE DO POETA
Glayson Carneiro


Era um dia qualquer,
Não sei se fazia sol ou chuva
As condições atmosféricas eram as mesmas.
Não era o dia de nada.
Nenhuma data especial!
A humanidade respirava as mesmas coisas de
[sempre...]

Os ônibus estavam lotados
Luzia cozinhava o mesmo almoço
Lali estudava e sonhava (ainda não sei com o quê)
Ninguém notara a morte do Poeta
Só agente funerário, o padre e o coveiro
Mas não sabiam que de um poeta
A repetição das coisas faz despercebida
[miudezas importantes]

Nenhuma homenagem
Nem salva de tiros
Pombas não revoaram
Havia somente em cima
De sua cova
Este escrito do próprio Poeta...




SUSTENTO RECICLADO
Irineu Baroni



Lixo: restos orgânicos
Inorgânicos recicláveis
Restos humanos
Reciclados na miséria

Peleja do sustento:
Disputa diária
Com as mãos
Que trabalham e recolhem
E jogam aos abutres
Do aterro

A fumaça embaça
A realidade alheia

A fome absorta e vil
Absoluta
Reina em cada gesto
Da mulher do filho do homem
Na disputa sórdida e febril

Lixo: restos absurdos
Desumanos recicláveis
Recolhidos na pobreza
Sobre humana
Do sustento
Desorganizado...




A FLOR TENEBROSA
J.Franco


Flor tenebrosa,
Laelia por excelência.
Seu profundo azul
tende ao mar:
- Conspiração de cores -
se impõe Soberba,
no gênero rei das orquídeas.
Matiz
que encanta e se dilui
anisotrópica
em nosso olhar
E, à vista do incauto, seduz
respingo de luz
em meio ao sonho de selvas
que não se vêem mais.






O EGOÍSMO DO TANGO
Maria Clara Segobia


O tango penetra
na alma dilacerada.
Na dança unidos
em um só compasso
representam sua dor.
No olhar transferem
toda angústia
num pedido de socorro.
Sentindo cada um
sua amargura.







QUANDO AS MÃOS FALAM
Thereza Freire Vieira


Há mãos que ajudam e consolam
Mãos em repouso, mãos que trabalham
Mãos que buscam o que estão além do alcance
Mãos que batem, empurram, mãos que acariciam
Mãos que agarram, mãos que doam
Mãos que brincam, mãos lutam
Mãos que amam, mãos que odeiam
Mãos amigas e mãos inimigas
Mãos que dão a vida e mãos que matam
Mãos que fazem os alimentos e mãos que fazem as drogas.
Mãos que curam, mãos que ferem
Mãos erguidas em uma prece que agradam a Deus.





DE BRUMADINHO A BONFIM
Márcia Araújo


No meu trajeto vou olhando a paisagem
Percebo árvores de tom ferrugem
Respondo aos acenos de quem nunca vi
Passo por casas em ruínas
Ipês amarelos colorem meu caminho
Algumas flores são roxinhas
Galhos retorcidos formam sombras complexas na estrada do meu pensamento.
A ponte torta me causa vertigem
A curva do rio me faz pensar na vida, o rio nunca é o mesmo, nem nós somos!
Vejo bambuzal, milharal, curral...
Capelas e cruzes a margem.
Sigo observando vales e montanhas
As nuvens formam figuras, pura miragem
Pelas janelas abertas a poeira vermelha dança
Fazendo par com cada lembrança
Na estrada de chão, com suas curvas sinuosas... Passagem para um só...
Aproximo-me do meu destino enfim!









SOBRE AVES DE RAPINA...
Marlene Porto Bandeira

Não quero um abutre para devorar as minhas carnes e em seguida regurgitá-las em outras bocas.
_Não é assim que o faz?
Quero um “homem-águia” que conduza-me ao silencioso altar das montanhas e lá,
no gélido granito do penhasco, acolha-me na ardente concha das suas asas
e vorazmente deguste-me; _Regurgitar-me?
Exigirei que seja na boca dos nossos filhos. E tenho dito!







AMANHECER COM O DIA
Lêda Tavares da Rocha

Acordar
Com o dia
Raiar
Com o sol

Amanhecer

Amanhecer
No ritmo
Da mãe
Natureza

Amanhecer
Com o dia...

Pássaros
Cantando
Sol
Despontando
E a vida
Pulsando
Fora
E dentro
Do peito

Despertar
Saudar o dia
Brilhar com o sol
Sentir a vida

Amanhecer.




BELÔ
Terezinha Romão

Tu és belo sempre belo.
Aquele que não teve o privilégio de nascer aqui
Ouviu sempre esta frase "vamos a Belo Horizonte”,
E o coração disparava de felicidade.
Era ir para rodoviária.
As deliciosas paradas de lanches,
A chegada triunfal na rodoviária,
A alegria dos parentes,
Era ver um mundo de gente bonita,
Lojas alinhadas, encantadoras vitrines,
Depois a gente cresce e de você não esquece,
Não dá outra, você já adotou a gente,
Então é mãe da gente,
Mãe grande, cheia de bondade,
Alegre, vibrante, com inúmeros amores,
Torcida do Cruzeiro, Atlético, América.
E das elegantes lanchonetes.
Das noitadas no Elite, Camponesa, Tulipas
Dos engravatados coronéis,
E das madrugadas nos motéis,
Mangabeiras, Pampulha, Savassi,
Santa Tereza que beleza!
Floresta, Ipiranga, vida noturna agitada,
Das mulheres de bolsinhas nas calçadas.
Hó! BH da Afonso Pena, dos coroas bonitos, do Café Nice e Pérola,
Dos magnatas e doutores, Afonso Pena de todos os amores...
Dos gays, feiras-hipies,
Praça Sete, Pirulito, Camelôs, Parque Municipal e Serra do Curral.
BH tem turista, tem Milton Nascimento, Lô Borges, Edna Fagundes,
Alô Skanke
BH primavera constante.
Dos ipês e dos amantes, ouro, matas, cascatas
O diamante mais belo
Garimpado no horizonte do Coração
TE AMO





PEDAÇOS DE MIM
Sônia Nogueira

Mirei com tal desvelo meu passado
Pedaços temperados de ilusão
Sorriso em doação de amor velado
Na folha em branco, nacos de emoção

Saí catalogando na enxurrada
Colei todos os cacos á luz do olhar
Intactos, sem ranhura projetada
Voraz os arrastei pra não chorar

Na porta o passo incerto da saída
Havia um temporal que eu não previa
A chuva ria disfarçada de alegria

Colei no álbum fotos na lembrança
Ardil que a mente usa sem serventia
A nova safra folhou uma esperança





DIAS COMUNS
Amélia Luz

Acordar, espreguiçar,
olhar o sol despontar...
Calçar os velhos chinelos
sentir o conforto
das roupas surradas,
tomar o café em família
ler o jornal no sofá...
Depois ir até o jardim
aspirar o cheiro da terra
colher uma rosa amarela
apreciar a sua formosura
pétala por pétala...
Arrumar a gaveta do armário
descobrir um velho livro guardado
reencontrar um passado
viajar nas suas páginas emocionantes
a tempos distantes...
Sentir o aroma do refogado
que vem da casa vizinha
provocando o apetite.
Ir até o alpendre
olhar a rua, os transeuntes,
a chuva fina que cai!
Perceber a harmonia dos dias comuns
sem nada especial a se fazer.
A vida correndo tranqüila
cada coisa empilhada em seu lugar
cuidadosamente...
Esperar o carteiro que vem
trazendo notícias de alguém.
Festejar com alegria a beleza daquele dia
lembrando que seríamos ingratos
se reclamássemos da mesmice
que encontramos sempre nos repetidos
e adoráveis dias comuns!
Tédio? Quem é poeta,
não tem!!!





A CASA DOS SONHOS
Paulina Vissoki

Dois bebês estão por vir
Numa casa bem perfumada
Com folhagens bem verdinhas
Na sacada da entrada.

Os móveis bem arrumados
Os enfeites mais atraentes
E os carrinhos enfileirados
À espera dos visitantes.

No quarto as duas caminhas
Com lençóis engomadinhos
No roupeiro, as camisinhas
São guardados com carinho

Ao lado, muitos brinquedos
Bichos, bonecas, joguinhos
Todos aguardam alegres
A chegada dos meninos.

São crianças bem arteiras
Que mexem com os pés, com os bracinhos
Mostrando que estão de acordo
Com os afagos de nosso carinho...

Ele não precisa de chupeta
Nem reclamar, ainda, não interessa
Vai esperar bem quietinho
A mamadeira que vão aprontar...

Ela não quer o sininho
Que na sua cama badala
Prefere a musiquinha suave
Com os guisos, de cima, a balançar...

Gigi já sabe trocar
As fraldinhas das bonecas
Agora, será fácil mudar
As roupinhas dos maninhos

Na casa dos sonhos
Tudo revela alegria, bem estar...
Gigi sorri de braços abertos
Feliz, logo, logo os maninhos
Vão chegar...

Na casa dos sonhos




VENDO A OBRA DO GRANDE PINTOR
HOLANDÊS VINCENT VAN GOGH
Áurea Gontijo

Vejo retratos, molduras,
Divinos coloridos vejo
Natureza morta, flores, muitas flores
Vejo quadros, auto-retratos
Paisagens, desenhos
Pessoas infelizes
Pintadas divinamente
Pelo artista amoroso
Que os retratou fielmente
Os quadros parecem falar
Existiu um ser iluminado que um dia os desenhou
O mundo ele muito amou
Entretanto, sucumbiu à intolerância
À doença e ao desamor
Não posso evitar a emoção
Inundo-me de cores
Sóis,
Girassóis,
É a explosão do amarelo!
Viva o grande Van Gogh!






DO TAMANHO DO MUNDO
Bilá Bernardes

É o sertão
quedando morro acima
ou morro abaixo
matéria vertente
força das Gerais, vida
em aprendendo sente

da secura brota verde
brotam também
grotadas, veredas
se avizinham aves
andanças e voos
no ar do respiro
profundo

o sertão é
do tamanho do mundo
é o próprio mundo
que habita o coração
o pensamento, a margem
e o profundo do ser no
ser tão gente

homem no mundo
mundo em cada homem
o sertão e o homem do sertão
renascem da seca
e crescem
do tamanho do mundo
(tentando homenagear Guimarães Rosa)

TRÊS EPISÓDIOS
Paulo Aguiar
M
Agora, que as sombras desvanecem-se
que as pedras tornam-se nítidas e
os obstáculos incontornáveis,
Há pelo menos o contorno da luz suave
e o céu azul, sem nuvens,
é um grande placar vazio
de um jogo que vai começar.
Ambição de ser árvore,
bastar-me em um lugar,
ser um grande candelabro de
cabeça para baixo.
As máquinas e seus ruídos
tem vida independente,
indiferentes aos nossos humores.
Integrar-se ao conjunto maior.
Paciência mais ceticismo.
Tentar não resvelar no cinismo,
Tentar ser fiel àquela criança determinada
que me formou (...)
(Continuação da´(T) tarde e da (N) noite, no livro)
´
´

CONVITE
Liz Monteiro
`
Fiz estes versos esta noite
Para brindar nosso amor
A lua está nos chamando
Vem depressa, por favor!
O céu está todo estrelado
Nos convida a namorar
A lua com seu brilho
Querendo nos prestigiar
Não percamos esta magia
Sejamos uno outra vez
O universo conspira
Quer ver-nos juntos outra vez
A praça toda enfeitada
Os seresteiros já vem
Trazendo toda alegria
Compartilhemos, meu bem
O pipoqueiro na esquina
O jornaleiro também
Vendendo os seus produtos
E alegria quje tem.
´
AMARELINHA
Zélia Beatriz
´
Seus braços no meu ombro, ensaio de abraço.
Soltos risos, cabelos em laço,
Um pé encolhido, outro no chão
Pulando ladrilhos, um sim outro não.
Casal em ziguezague, romântico gracejo.
Quem cair paga prenda - um beijo.
Não me faça falsear no chão.
Não me deixe cair em tentação.