quinta-feira, 2 de abril de 2009

FOTOS DOS POETAS EN/CENA 3

Elizabeth Cury B. Watanabe
Mulheres... mulheres...

O que se pode dizer sobre a mulher...
Sobre as mulheres...
Das Marias...
Das Aparecidas...
De tantas outras anônimas...
Só mudamos de nome!!!
Todas são fortes.
Nunca se intimidam.
Diante dos desafios...
Tornam-se corajosas
e desafiadoras.
Muitas ainda sofrem...
Apesar de grandes conquistas!!!
Pelo dom da maternidade...
Representa a vida...
Em todos os cantos
do mundo, espalha
seus encantos...
Inspiradora do amor...
Com sua doçura, batalha
para que o mundo
seja melhor...
Não importa a idade...
Mulher agora é sempre...
Mulher de verdade!!!
Elizabeth Cury B. Watanabe

João Batista Mariano
A natureza ferida

Ó homem que fere,
Ó homem que mata,
Por causa do ouro,
Por causa da prata.
Destrói as florestas,
Matam os animais,
Lá se vai a natureza,
Perdendo a sua beleza,
Que não volta jamais.

E o homem não se importa
Com nada daquilo que faz.

Os homens matam as aves do ar,
Matam os animais na terra,
Matam os peixes no mais profundo mar.

Lá vai o homem,
Levando a terra a destruição,
Não respeitam a Deus,
Nem a natureza, e
Nem tem compaixão.

Voa pássaro, vai voando,
Foge do homem que está te matando.
João Batista Mariano
Elza Teixeira de Freitas
Se eu soubesse que virias

Sorrateiro como um gato
chegaste assim, mansamente...
Fiquei surpresa, de fato,
ao ver-te tão atraente.
Se eu soubesse que virias
teria me preparado,
posto um sorriso nos lábios,
leves gestos ensaiado.

Teria a sala arrumado,
lavado bem a cozinha,
teria feito um assado
para servir à noitinha.

Se eu soubesse que virias
teria tudo ajeitado
e feito um pudim de côco
ou de leite condensado.

Oh! Meu Deus, se eu advinho
teria comprado flores,
teria comprado vinho
e esquecido os dissabores.

Se eu soubesse que virias
teria as unhas pintado
e depois tomado um banho
bem gostoso e demorado.

E também passado um brilho
nos meus lábios ressecados;
teria pintado os olhos
já um tanto embaciados.

Se eu soubesse que virias
teria o quarto arrumado;
lençóis de seda na cama
eu teria colocado.

Branda luz eu fixaria
no abajur de cabeceira,
bons CDs escolheria,
lembrando a noite primeira.

Se eu soubesse que virias
um cenário diferente
com certeza eu montaria
bem antes do sol poente.

Mas, já que não me avisaste
eu terei que improvisar;
eu não sei se já notaste
novo brilho em meu olhar.

E, quando a noite chegar,
embalada na canção
é somente libertar
a minha imaginação.
Elza Teixeira de Freitas

Luiz Zanotti
Eu sou um cara perdido e achado Estou no vão das suas coxas
Extasiado e bêbado Sou o sorriso do após
A gargalhada do após
A amante deitada no leito Sujos e deliciosos Lambuzados
Perdidos num só prazer
Respiro o seu hálito Masco a sua boca no café da manhã
Cuspo mais uma vez em seu ventre Só desejo
Satisfaço mais uma vez o meu paladar
Na sua pele carnuda e macia
Mas quero também veias, dor e amor Vomito esperma
Seu anel de ouro Seu anel de couro Seu anel rosado
Percebido, mal intencionado Sou o esperma na sua boca
O fruto final do Desperdício e prazer
Luiz Zanotti

Apresentação

Amélia, Antônio, Anatália, Basilina, Benedito, Brenda, Cecy, Cláudio, Cicinho, Cristina, Diego, Dionísio, Dora, Elaine, Elizabeth, Elza, Euna, Fátima, Geraldo, Gilberto, Gertrudes, Gato Pingado, Iara, Irineu, Isabella, João Batista, Josenir, J. Franco, L. Rafael, Luiz, Márcia, Márcio, Marcos, Maria Clara, Maria Goreti, Maria Morais, Marta, Nídia, Paulina, Paulo, Rogério, Virgilene, Sebastião, Sônia, Soninha, Vanderlei, Waldemar e Walnélia; todos eles estão em cena escrevendo a própria história.
E agora cada um pode ir mais além, pois se entrarem em contato com cada participante deste livro poderão compartilhar poemas, conhecer a cidade em que cada qual reside, promover o lançamento deste Poetas En/cena, em parceria, pelo Brasil a fora.
Para destacar-se na cena é importante renunciar ao individualismo, atitude tão comum dos homens modernos. A união é imprescindível nos dias atuais e o Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia de Belo Horizonte é um dos endereços certos para esse compartilhar.
Para estar nessa cena é preciso ousar, arriscar, atuar... A chave está nas mãos de cada poeta, assim como dos leitores.
Reunidos na cena para, como uma constelação, brilharem mais forte, sempre.

Rogério Salgado & Virgilene Araújo



Benedito C. G. Lima

Este é o modo de amar

Gosto de ouvir
o som de sua voz
anda rilhando no tempo
brincando de palavra
desenhando frases
esboçando um amor infinito.

Gosto de sentir
o sabor do teu jeito
arranhando o espanto
pisoteando a saudade
voando célebre
espatifando nos meus lábios.

Gosto de tocar
nas teclas sensuais do teu corpo
arrepiando o galo da procura
descobrindo a mosca de deleite
buscando no vôo dos pássaros da
linguagem
codificar a única mensagem que sei dizer:
EU TE AMO
Este é o meu modo de amar.

Benedito C. G. Lima

Vanderlei Lourenço


Poema do Eu

Sou negro
Há os que me querem preto
A certidão de nascimento, pardo
Há os que me enxergam africano
Sem defender causa:
Negro

Sou negro
Há os que me comparam à noite escura
Há os que me lembram os açoites
A carne viva
O sangue derramado
Há os que defendem tese

Eu?
Sou negro
E basta

Negros sujam, asseguram-me:
Na entrada ou na saída
Eu rio.
Não é engraçado?


Wanderlei Lourenço

GatoPingado
Mímica
homenagem a Jiddu Saldanha

corpo-expressão
fala sem palavras
comunicação expressa
no controle
do gesto

poesia e poema
sem letras, sem som
só corpo dizendo
da vida, da emoção

Isso não é só dom
Bilá Bernardes
Poema de Bar

Mão que goza
Cada gole
Cada miúdo mordido
Cada prazer embutido
Na cachaça engordurada.

Mão que rala
E talha o mundo
Em mais um dia de trabalho

Mão que escreve na carteira
a impressão duma vida inteira
Calejada, enrugada.

Karol Penido


Elaine Bueno
Marcas

Não me fale das conseqüências
dos meus atos de agora.
Trago no corpo evidências
de minhas renúncias de outrora.
Elaine Bueno
Antônio Souza

Romã

Minha mãe quando tomava café
Sorvia o mundo numa xícara de esmalte marrom
Besteira eu dizer que eu tenho saudades de minha mãe
Mas daria toda a alegria do mundo
A quem me trouxesse a xícara

A vida, meu Deus, é um milagre.
Antônio Souza

Nídia Maria de Jesus
Brumadinho

Com suas serras neblinosas
E suas ruas morro acima,
É cidade generosa
Nas suas águas cristalinas.

Volteada em picos belos:
Rola Moça, Três Irmãos...
Os ipês amarelos
Me comovem o coração!

Na simplicidade ostenta
Seus jardins sempre floridos,
Num bom clima que acalenta
Este povo tão querido.

Os bambus abraçam as águas
No bom rio que caminha
Minerando suas mágoas
Numa música que é tão minha.

Que o progresso não lhe venha
Perturbar sua vida boa
E Brumadinho sempre tenha
A Natureza por patroa...

Que ela sempre fale alto
Na beleza das paisagens
Conservando seu planalto
Enverdecendo as pastagens...

Nas crenças diversificadas
Com Jesus erguendo a taça.
Cristandade vivenciada.
Cem de Deus tão imensa graça.
Nídia Maria de Jesus

Isabella Calijorne

Borboletas Pelos Ares

Borboletas pelos ares
Casais, amantes, pares
Amor com aroma de sedução
Confundindo a mente daqueles
Que só sentem atração

E o poeta
Louco de pensamentos
Pôs-se a pensar
Em seu próprio romance
Que acabara de começar

Borboletas pelos ares
Se pondo a voar
Trazendo melancolia
Lágrimas que embaçam o olhar

Pondo o poeta louco de pensamentos
A chorar,
Pelo ingênuo motivo de não saber amar
Isabella Calijorne


Paulina Vissoky
A estrela que vejo

Para a Rafaela

A estrela que vejo
Não é estrela comum
Tem a luz colorida
Com matizes do arco-íris

Passa, passa bem pertinho
Dos meninos de minha rua
Tem luz própria, reflete ligeiro
Nos caminhos da turma

Outro dia tentei agarrá-la
Com as mãos muito limpas
Mas ela se esconde, esconde
Na beirada da calçada

E quanto mais me aproximo
Levanta as pontas para cima
Seguindo pro alto com suas asas
Como prateadas borboletas...

São reflexos de uma luz
Do sol ou de partes de luas
Iluminando, meninos nossas vidas
Como anjo da guarda das ruas...
Paulina Vissoky

Rogério Salgado
O favo e a vela

A vida deveria ser mais doce
feito uma saia rendada de abelhas
depositando mel a cada instante
adocicando detalhadamente
sentimentos de cada um de nós

e feito paz, branca
sobre a mesa, acesa
iluminando novos caminhos
do porvir.

(Rogério Salgado & Virgilene Araújo)


Soninha Porto


A NOITE

o poeta aprisiona
fragmentos da noite
sacia a alma no beijo do luar
abriga-se no calor dos amantes
ou bebe ritos e vícios
ao som dos copos de bar

no silêncio estremece
no breu dos becos e vãos
das esquinas da mente
chora e briga com a solidão,
ri e faz amor com a vida.

traça perfis e esboços
a noite ainda é uma criança,
é dama da boca insaciável
do ventre profundo...
sempre à espera da poesia
Soninha Porto
Cicinho Barbosa
Ser criança

Ser criança
É ser feliz!
É brincar
Pedindo bis:

É fazer tudo inocente
É correr muito e pular
É sempre viver contente
E contente sempre ficar.

Mais alegre elas ficam
Quando-lhes – dão brinquedo
São fantasias infantis
“Nelas existem segredos”.

O sorriso das crianças
Contenta e descontrai
Qualquer adulto sorri
Com as graças que elas fazem.

Das melhores fases da vida?
É quando somos crianças
Nunca será esquecida
As maravilhas lembranças.
Cicinho Barbosa







Paulo Aguiar


As cigarras

Incansavelmente
perseguem sua melopéia.

Não queria dizer,
mas vi fulano
com sicrana!

As outras alvoroçam-se.

Quando?
Onde?
Como
foi?
Paulo Aguiar


Iara Alves

Bio dança

Ali te encontrei
acanhado
no teu canto
e eu também
cantei
no mesmo canto
tuas mãos
tocaram as minhas
e em espelhos
se multiplicaram
eram mãos buscando
mãos
até que uma roda
gigante
se abriu
nossos corpos
atingiram
o céu
soltos
donos do espaço

Na esperança de me encontrar
danço

Iara Alves

Euna Brito
Tempo de Cigarras...

Outubro – como calar cigarras?...
Não há silêncio que não se quebre
Em tempo de cigarras,
Onde haja cigarras...
Som contínuo e incômodo,
As cigarras me desafinam...
Decibéis decididos sobem ou
Descem mais
E mais
Em decimais desmedidos...
Comedidas, as formigas.
Comeriam dívidas humanas ou inexistentes insetos
De nomes por existir...
A cantoria da floresta é o que resta de cantante neste pedaço de mato!
Mais as cigarras...
Os cupinzeiros têm a forma de certos cinzeiros.
O cupim, sim, é laborioso!
Em conjunto, trabalham muito, embora seu trabalho não nos interesse!
O assoalho da sala deverá se trocado
Por causa de cupins domésticos...
Os capinzais podem esconder cobras.
A vida é uma arena!
Temos de tourear as dificuldades que a vida nos apresenta.
Maldade pouca é quase bondade!...
Para esquecer os males, uns apelam para cigarros!...
Outros fazem poemas – o meu é para as cigarras.
Som e fumaça...
Evolam-se...

Euna Brito


Sebastião de Mello

Rebenque da saudade


Boi,
Boiada,

Já não se vê mais
Uma boiada sendo tocada.

Já não se ouve mais
O toque de um berrante,

Já não se vê mais
Uma vara de ferrão na mão,

Já não se ouve mais
O eco do grito de um peão.

Boi,
Boiada,

Só se vê
O caminhão pegando a estrada.

Só sé ouve
O peão chorando as mágoas

Saudade dos velhos tempos
Dos gritos que ecoavam

Ei boi...
Ei boiada...

Só se vê
A traia toda pendurada
Sela, laço, perneira,
Guaiaca empoeirada.

Só se ouve
Os casos sendo contados...

Boiadas que foram tocadas
Barretos, Ituitaba, Sorocaba...

Ei boi...
Ei boiada....
Sebastião de Mello
Marcos Freitas

PEDRA DO SAL
as jangadas partem cedinho
e somem no imenso azul distante
balançam, balançam e balançam no mar
retornam à tardinha
no cesto, três ou quatro peixes
vendidos a quatro ou cinco reais
Marcos Freitas

Amélia Luz


Rosas de ferro

Esculpir a poesia
Em fios de ferro
No alicate das próprias mãos,
Na forja, no fogo, no jogo do coração...
Modelar a palavra com sabedoria,
Dar vida ao verso livre, à fantasia,
Na lida insana, cotidiana,
Oficina as emoção!
A mão, delicada e pura,
Modelando o prazer de fazer,
O verso faminto que ora sinto,
À luz da manhã que inicia silenciosa.
Apalpar a poesia e o enigma,
Na perplexidade de criar do ferro bruto
Rosas modeladas em brasa viva.
Compor a fachada da alma
De um templo ornado de magia interior...
Esconder em páginas vibrantes
As idéias gigantes de um escultor,
Em sua hora plena de criação...
Ultrapassar o tempo
De um mundo para outro,
Enquanto a descoberta da felicidade
Nos embriaga e enlouquece!
E não há cansaço ao fundir as rosas,
As rosas em versos da minha emoção.
É sublime centelha, é inspiração!
Amélia Luz

Cristina Carone

Ao som dos violinos

Venham violinos...
Venham para perto de mim,
E deixem soar de suas cordas
As mais lindas melodias de Amor.
Inundam a minha alma de sonhos
Os sonhos mais românticos
Os sonhos mais apaixonados
Os sonhos mais eróticos
Que uma mulher possa ter.
Me deixem ouvir músicas,
Para que eu possa me sentir
Uma odalisca adornada
Pelo brilho do ouro e do seu poder.
Metal reluzente, e ao dançar,
Possa expressar toda a luxúria
Existente dentro de mim.
Preciso das Divinas
Que me levam ao Paraíso.
Profanas, porque sou carne
E, em minhas veias,
Viaja o desejo.
A paixão incontrolável
Quando estou ao lado
Do homem a quem pertenço.
Ouça-os ao longe...
Porque quero ouvi-los.
O êxtase me domina.
Neste momento, sou como uma cigana
Vestida com roupas coloridas.
Numa tenda exótica e florida.
Cabelos soltos, enfeitados por uma flor.
O corpo falando,
Se insinuando,
Ao homem dos meus sonhos.
Venham... venham...
E me alegrem nesta noite escura
Onde, nem uma só estrela
Vejo no céu.
Desnudam-me por inteiro,
Porque sou Esfinge
E, muitas vezes
Femme Fatalle.
Tragam com vocês,
O homem da minha vida
Aquele por quem vivi
E morri de amor.
Cristina Carone

L. Rafael Nolli

Balada homicida

É preciso matar o vizinho com um tiro de fuzil,
antes que ele compreenda os textos sagrados
e venha, como irmão, a seu lar,
comer do seu pão e beber do seu vinho.

É preciso degolar os amigos,
ou enforcá-los em seus cadarços
(eles não usam gravatas),
antes que eles entendam Marx,
decretem o fim da era dos desiguais
e venham exigir que você participe do combate,
deixando para trás sua coleção de tampinhas
de refrigerantes
e de caixinhas de Malrboro.

É preciso matar os homens
– contrariando Drummond –
antes que eles entendam a poesia que há nas coisas
e comecem a distribuí-la em seus gestos diários.
Assassiná-los antes que liguem para a sua casa
e convidem-no para ver a lua
ou um mosquito de Proust,
retirando você de seu conforto militar, remediado.

É preciso se matar, sobretudo se matar,
antes que a vida se refaça no interior dos lares
e a alegria volte a corar a face dos homens:
antes que eles se compreendam, venham à sua porta
e a derrubem, por acreditarem-na obsoleta.


L. Rafael Nolli



Diego Mendes de Sousa


Frisson à Rilke

Que o Tempo não refute nunca
o rastilho prisioneiro e perplexo
do Amor
pois o sangue- motor da vida- pulsa
rarefeito
no apelo escondido dos Astros
a debilitar o indispor do mundo
que arrasta o azul sobre o branco:
o ar puro da felicidade
Somente o Amor filtra a ofensiva
da amargura em qualquer coração
e derrama o inusitado sobre o rosto
a orvalhar a eviternidade
e apreender o martírio de tédio
que deslumbra
a existência sufocante
em recatos de sabedoria enevoada
Diego Mendes de Sousa

Dora Dimolitsas
Sou Pássaro
Pelo mundo perambulei
Cansada um dia parei,
E como pássaro,
Na poesia pousei.
As faíscas materializam-se
E caminham na esfera palpável das artes.
A construção criativa coloriu o panorama do meu consciente
Fazendo meus ideais poéticos como uma obra de arquiteto.
Tomando formas, criando imagens, dançando ao vento
Onde a flauta solta notas musicais,
Acompanhada por véus esvoaçantes.
Dora Dimolitsas

Josenir Baciliere
SOCIEDADE


Sou cego do olho
Surdo do ouvido
E manco do pé.
E sei que percebes
Mas meu pé direito
Exala chulé.

Cabeça de bobo
Também sou canhoto
É fácil de ver.
Minha língua é solta
Nem cabe na boca
De tanto bater.

Me olhe direito
Me fite nos olhos
E pare de rir,
Pois sou do teu jeito
Que fala dos outros
E esquece de ti.

Josenir Baciliere



Geraldo Afonso
Tempo

No tempo que penso
que penso no tempo
não fica momento
tão breve que seja
que passe depressa
ou até vagaroso
levando essa doce
visão de alento
que vai e que volta
surgindo do nada
chegando a ser tudo
e levando pra longe
vencendo a distância
e embalando no tempo
pensando ser dono
de tudo e de todos
na onda criada
tal qual uma duna
viajo e volto
espero e refaço
e numa das ondas
encontro você.
Geraldo Afonso

Waldemar Alves
O mundo da música

Arte e técnica combinam
Os sons e as tonalidades
As sete notas do arranjo
O aprendizado da partitura
A incrível memória musical
Seja na alegria e na tristeza
Nas cenas do mocinho solitário
No oeste americano
Ressoa o som amigo
No carro, ônibus, trem
Avião ou condução
Na trilha sonora de cada filme
No hino de cada país
No ritmo de cada cultura:
Country, jazz, blue, rock,
Pop, reggae, tango, bolero,
Samba, MPB, tropicália, brega,
Bossa-nova, clássico, valsa
Para de sucessos,
Instrumentos musicais:
Violão, violino, viola, guitarra,
Sanfona, sax, piston, órgão,
Piano, bandolim, pandeiro, banjo
A música faz a festa.
Waldemar Alves

Sônia Martelo

Os olhos de meu menino

Os teus olhos vibrantes, meu amado menino,
são dois lindos faróis acesos sempre a brilhar,
a conduzir com garbo meu feliz destino
rumo a um sublime paraíso sem par
onde a paz, onde a alegria, onde a ilusão
fazem de meu peito sua perene morada
e aquecem o pulsar deste meu coração
com chama ardente qual braseiro na estrada...
E quando os teus olhos me fitam de um jeito bonito,
um suave sorriso fica a pairar em teus lábios,
sinto então que me alço até o azul infinito
livre de toda dor, livre de tristes ressábios...
São teus olhos castanhos tão cor de mel
que me animam pela minha Vida afora
e eu chego a pensar que estou no Céu
quando os miro, esqueço de tudo, esqueço da hora,
não percebo o tempo passar, não vejo mais nada
além de teus olhos no encontro dos meus
e nesta minha longa e duradoura caminhada,
todo o meu Ser rende muitas graças a Deus!...

Sônia Martelo
Dionísio Silvares
Minhas Gerais
por Dionísio Silvares

Meu canto ecoa as rimas já lavradas,
Colhidas e moldadas nas Gerais.
Canta também as glórias conquistadas,
Seja na guerra ou seja em meio à paz.
Por isso, dai-me, ó ninfas bem-amadas,
A inspiração que em vossas serras jaz,
Para que o canto espalhe em toda parte
Dos mineiros o ardor do engenho e d’arte.

Nossa história começa numa Vila
Rica, onde disputavam os pastores
Com seu canto os amores de Marília,
Com seu choro atenção às suas dores.
E eles cruzavam prados pelas trilhas,
Cantando ao gado e aos montes seus amores,
Cientes de que a fortuna é mal segura,
Pois males acompanham a ventura.

E assim nossos pastores não estavam
Cegados pelas flechas do Cupido –
O abuso português eles notavam
Mais duro do que sempre havia sido.
E, enquanto todos eles trabalhavam,
Apenas o Rei Luso, enriquecido,
Gozava das riquezas exploradas
Sob o som das nervosas chibatadas.

Por isto, planejaram a revolta,
Lutando pela nossa liberdade.
Queriam como dantes ter de volta
A calma de uma vívida igualdade.
E, no entanto, um traidor de língua solta
Repassa informações da sociedade,
Que é caçada, chegando ao fim tão cedo,
Entre penas de morte e de degredo.

É que nesta terra,
Para os mártires, calmo jazigo,
O sangue prospera,
Garantindo à memória um abrigo.

E o sangue deles não correu em vão,
Pois o Brasil em breve libertou-se.
Mas batia igualmente o coração
Atado às rimas vis que a Europa trouxe.
Éramos livres e, no entanto, não
Existia uma musa que assim fosse.

Tão pálida e tão bela como a lua,
Vinha tísica, a Morte e vinha nua.

Jazia no sepulcro quase morta
E os poetas, quase mortos, entre lágrimas,
Como um homem que nunca se conforma,
Sussurravam as suas rimas pálidas.
Até que um pouco de razão bateu à porta
Carregando, por ora, esta musa que, esquálida,
Conseguiu transformar-se em saudável mulher,
Mais bela e definida – a todos um prazer!

É que ao longe ressoavam sinos dissonantes,
Trazendo um véu de sombra aos ombros dos amantes.
Acendeu-se o sidéreo manto como um círio,
Iluminando a madrugada de delírio,
Onde ouviam-se as vozes de preces distantes,
Do velório da musa coberta de lírio.

Cantava o sino em lúgubres rezas:
“Pobres poetas! Pobres poetas!”

Mas em breve vem na aurora
um sol que a sombra descora.
A musa está liberta
das grades da rima, da métrica
e de toda exigência poética.
Percorrerá agora todo espaço
infinito, dos infinitos prados,
escalando montes, descendo vales,
pairando sobre o Belo Horizonte que já nasce.

A musa está nesta cidadeZONA qualquer...,
e o homem por detrás do vidro fumê
é um motorista como qualquer outro,
que respeita as placas quando vê,
mas que, de resto, deixa o carro correr solto.
E o vidro do seu carro é escuro,
atrás dele o homem se esconde
das pulgas dos cachorros dos vagabundos
se esconde dos pivetes presos pela polícia.
Pivetes. Pobres. Presos. Pretos como o vidro do automóvel,
que já não se move.
O semáforo escorre num vermelho escarlate.
Stop. A vida parou. Parou o automóvel.
E não mais pára – dispara quando o verde bate.
Verde que desaparece das matas
e que reaparece nas notas.

O carro anda.
A vida anda.
O mundo anda.
E a gente anda apressada...
Eta gente besta, meu Deus!

A gente não nota que a musa é cantada
(agora) por todos! Na língua de todos!
Mulheres tristes e felizes cantam
e não apenas são cantadas;
pobres e ricos se encontram
pelas ruas asfaltadas;
e a rima que vem é a rima que cai,
profunda filosofia do mineiro: “uai!?”.
É a musa-utopia de todos os tempos,
exposta para que todos a vejam
e que outras musas sintam inveja.

Minas Gerais, te orgulha! Teu futuro ascende
E o teu passado fulge, fundando-se em fama.
Inflama-te avançando por dentre as sendas!,
A todos anunciando o brilho desta chama
Que espalha no horizonte tal grandiosidade,
A retumbar no monte o grito: LIBERDADE!


Gilberto Maha
Poema para Além Mar

Permita-me
ver-te bem
além dos olhos
Além das espumas
de Abrolhos
Além do mar
sem fim
Permita-me
ver-te a alma
incandescida
pelas noites
mal dormidas
por não estares
junto a mim
Permita-me
ver-te além
da alvorada
após a noite
maltratada
a procura
de um jardim
Permita-me
ver-te além
do horizonte
que procuras
não sei onde
nem em Povoa de Varzim
Permita-me
oferecer-te mãos amigas
longe das invejas
e sem intrigas
Colo quente
incandescente
Coração latente
a te ofertar
tudo isso
cá do outro lado
deste seu
além mar

GilbertoMaha®©



Gertrudes Greco
Plantão do dia a dia

Mãos que trabalham
sem cessar...
Pernas que caminham
sem descansar...
Cabeças que não param
de pensar...
Curativos, medicamentos
pra arrumar... preparar.
É quase hora de
encerrar...
Corredores imensos,
quartos lotados...
Emergência! S.O.S.
Dr. Avisado...
Agitam-se de seus postos,
com os devidos
medicamentos preparados,
aqui trazidos...
Mais uma vida salva!
que alívio!...
Outro que se foi...
Deus quis assim...
E retornam os amplos
corredores...
Dos grandes quartos,
os pacientes; enfermeiros.
A cuidarem e a
serem cuidados
novamente...
Rotineiramente...
De plantão à plantão,
Diariamente!!!...


Gertrudes Greco

Maria Morais
Ipê Amarelo

Em cachos douros floridos
nas beiras das estradas se vê
altivos qual mastros erguidos
natural Bandeira Brasileira – é o Ipê.

Sobrepondo sobre as poucas cores
o cinza asfaltico pétreo e triste
sorrindo vitorioso, desprendendo odores
o Ipê amarelo às secas resiste.

Desafia a devastação do cerrado
altivo erguido na sua floração
no amarelo simbólico do Brasil.

Em cachos douros admirado
louvando pela beleza o Rei da criação
o Ipê amarelo do cerrado floriu.


Maria Morais





Maria Clara Segobia
Familia

Eu e Tu
Nós
Elas

Eu e elas

Após
Elas e eles

Eu?
Só!
Maria Clara Segobia

Anatália Moreira Freire
Grande Beleza


Grão Mogol hoje és grande
Mas um dia fostes um grão
Plantaram-te em terra seca
Fecundou pela razão
Sem que ninguém te cultivasse
Teve essa progressão
Todos que vivem aqui
Alimentam-se do teu chão
Nasceste de uma serra
Pedra bruta, porém, amada
As pessoas que te visitam
Por você ficam encantadas
Grão Mogol descrevo a sua grande beleza
Serras, matas, muitas flores
Nas suas grandes veredas
Sem contar com as sempre vivas
Enfeitando a natureza
Rios, águas cristalinas, requinte da natureza
Só nosso Pai, o Criador, pra fazer tanta beleza.

Anatália Moreira Freire

Fátima Borchert
Meias finas

Meias finas
Com ligas
Brancas
Pretas
Carmim
Eram o desejo
De toda mulher

Meias finas
Com ligas
Nas coxas
Que ligam
O ventre
Que liga
Os seios
Que ligam
A boca
Eram o desejo
De toda mulher
Fátima Borchert

Cecy Barbosa Campos
Cena cotidiana

O cidadão de bem foge aterrorizado –
tenta escapar de seus perseguidores
que não sabe quem são.
Sente-se acuado por sombras indistintas
que espalham a morte
sem alvo definido e sem motivo algum.
A mãe, levando o filho à escola,
tem a rotina diária interrompida
e, escondendo-se atrás de uma barraca,
tenta proteger com seu corpo magro
a criança que chora, apavorada.
Por outro lado surgem mais atiradores,
misturam-se bandidos e policiais
não identificáveis como seres humanos
e irreconhecíveis como animais.
O fogo cruzado vai se intensificando
e a bala perdida atinge mais alguém
no dia a dia de terror, na cidade grande.
Esse crime é mais um que não será computado
nas listas estatísticas, de tão banalizado.
A bala perdida que hoje mata
um cidadão de bem,
torna-se apenas
uma repetitiva notícia de jornal.
Cecy Barbosa Campos

Cláudio Márcio Barbosa Minar


A pluralidade visceral
Que me atormenta
Em instantes diversos
Alimentado meus sentidos múltiplos

A procura de contextualizar
Exorcizando o vulcão que emerge
De forma a reformar os versos
Em ação de verbalizar

O gozo da incerta hora
Certa abundância precária
Flui subitamente
Domando a ânsia
A textualizar sutis erupções.
Cláudio Márcio Barbosa

Brenda Marques
Toda regra da exceção

Nem tudo que é perfeito se faz de pretexto para compor um poema
Nem toda canção se cria da velha companhia da presença criativa
Tudo o que se permite nem sempre admite novas performances
Toda luz clareia, mas algumas de tanto iluminar ofuscam brilhos.
Neste ritmo, dá-me uma paleta de sons e tons para fazer arte
Desenrole a linha para colocar a letra e seguir por outra parte
Onde revele os sons que luzes ofuscam e os poemas acendem
Nem todas as canções eternizam, mas ainda assim vendem.
Quando o lápis com a ponta quebrada fincar o peito como lança
E por mera desavença se resgatar a poesia de forma incoerente
A paz chegará ao incômodo coração do escritor na lembrança
E ele seguirá em sua lira a olhar para tudo de modo diferente.
BRENDA MAR(que)S PENA

Marta Reis
Pra Sempre

Procuro no céu uma estrela
nela o brilho do teu olhar

Parece que foi ontem
está tudo tão presente

Tuas histórias permanecem
com lembranças tão antigas

Tênue fio realidade-fantasia

Naquela manhã sombria
o mundo se vestia de luto
desabava tudo ao redor

Montaste um cavalo alado
foste cavalgar o céu

Vô, me conta teu segredo
talvez acalme minha dor
em que estrela foste morar?

Marta Reis


Maria Goreti Rocha

ESTAMPA


Digito palavras.
Não penso, não falo,
Apenas escrevo.
Não são versos,
São impressões que surgem.
Rotas alteradas
Do meu silêncio vazio,
Na noite criança
Cansada da lida.
Tintas, tecidos, pincéis...
Teço imagens na mente,
Bordo sonhos
Da infância perdidos.
Sorrio vazio,
Tudo é silêncio.
Em meu peito
Um grito calado.
Resvala minh’alma
Por entre lenços de seda.
As cores escorrem
Gotas de mim.

Maria Goreti Rocha
Márcio Adriano Moraes
A POESIA

A poesia é a lâmina que melindra a alma,
Que revela horizontes e destrói trincheiras.
Clareza reluzente de uma tarde de aurora,
Alva flor rósea de caminhos e alamedas.
São magnas tropas de vocábulos em tropo
Feitas para corações sensíveis e loucos.
Amadas gritarias no alto do topo
De grandes mentes inexprimíveis em fogo.
A poesia não é santa, por malícia, encanta,
E, quando morta, revive a pessoa que se ama.
Uma droga que dopa a sensibilidade
Através de uma orla de amabilidade.
Ser poeta é ser um condor que voa e cava,
Que diz tudo ou nada, apenas com uma palavra.

Márcio Adriano Moraes


J. Franco
Quadros por segundo

Num gole de café,
Djavan desfila Vaidade
na madrugada quente,
brasileira.
Meus olhos vítreos
fitam teu corpo vívido
em quadros por segundo;
curvas , estradas
- entradas -
rodovia balzaquiana.
E eu, de tão seu,
só teu,
soltei-me.
J. Franco

Márcia Araújo
PARTEJAR
Partejar é difícil
Seja com ajuda, cesariana
Seja fórceps, expulsão
Seja natural, naturalmente
Fazer parte do mundo e se sentir a parte dele
A partir do encontro com a parteira!

Partejar é difícil
Partir sem lágrimas, sem despedidas
Para participar de outros mundos
Sentir-se partícula
Às vezes particular às vezes universal.

Partejar é difícil
A partir de um encontro
Na parte que morre...

Partejar é necessário!
Márcia Araújo
Irineu Baroni

TROCADO



Moço me dá um trocado?
Menino pivete
sem camisa
e descalço.

Moço me dá uma ajuda?
Passeio da rua
seu lar
sua morada.

Moço me dá “dezcentavo”?
Água da fonte
seu lazer
seu brinquedo.

Moço me dá uma moeda?
Traseira de ônibus
seu transporte
sua morte.

Moço me dá...???

Menino carente
menino doente
sorriso latente
futuro delinqüente...
Irineu Baroni

Basilina Pereira
INSUBMISSA

Fui desnudada por um sonho interior
e impregnada pelo cheiro do capim.
É como mácula esse martírio doce,
que surge feito relâmpago,
à medida que me aproximo...
A liberdade é uma tocha que apaga
no ritmo da inspiração
e eu me sinto estrangeiro
no meu próprio ninho.
Quero cultivar o vício
de ouvir o som de harpas,
acordar com pingos de cores
e flutuar sobre os meus versos
sem submissão
ao que está fora de mim.

Basilina Pereira


Walnélia Pederneiras
Zoom
Lépido
Forte
Audaz.
Sorte
Saber
que é sonho
e se desfaz.
Walnélia Pederneiras

Poetas En/Cena 3ª edição



Confira a relação dos participantes, abaixo:




Naturais de:
Amélia Luz (MG*), *Anatália Moreira Freire, *Antônio Souza, *Basilina Pereira, *Bilá Bernardes,
*Brenda Mar(que)s, *Cecy Barbosa Campos, *Cláudio Márcio Barbosa, *Cristina Carone
Diego Mendes de Sousa (PI), Dora Dimolitsas (AC), *Elaine Bueno, Elizabeth Cury B. Watanabe (SP) *Euna Brito, Fátima Borchert (RJ), *Geraldo Afonso, Gilberto Maha (RJ), Gertrudes Greco (SP), *Grupo Gato Pingado, *Iara Alves, *Irineu Barone, Isabella Calijorne,*Jaques Franco, João Batista Mariano, *L. Rafael Nolli, Luiz Zanotti (PR),
*Márcia Araújo, *Márcio Adriano Moraes, Marcos Airton de Souza Freitas (PI), Maria Clara Segobia (RS), Maria Goreti Rocha (ES) , *Maria Morais, *Marta Reis, *Nídia Maria de Jesus, Paulina Malchick Vissoky (RS), *Paulo Aguiar, *Rafael Guimarães Silva, Rogério Salgado(RJ), *Virgilene Araújo, *Sebastião de Mello, Sônia Ditzel Martelo (PR), Soninha Porto ( RS ), *Vanderlei Lourenço, Waldemar Alves (CE), Walnélia Pederneiras(SC)


Luz, paz e harmonia para todos nós.